sábado, 16 de outubro de 2010

Fragmentos...

"Muitos anos de sua existência gastou-os à janela, olhando as coisas que passavam e as paradas.
Mas na verdade não enxergava tanto quanto ouvia dentro de si a vida.
Fascinara-a o seu ruido - como o da respiração de uma criança tenra - o seu brilho doce - como o de uma planta recém- nascida. Ainda não se cansara de existir e bastava-se tanto que às vezes , de grande felicidade, sentia a tristeza cobri-la como a sombra de um manto, deixando-a fresca e silenciosa como um entardecer. Ela nada esperava. Ela era em si, o próprio fim.
...Juntou todos os seus pedaços e não procurou mais as pessoas. Reencontrou a janela onde se instalava em companhia de si mesma."

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector