sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Peregrina


Peregrina de meus dias
Sigo em paz meu caminhar
De um tempo que passei
Na solidão te amando
Sobraram versos soltos no papel.
Versos que nem mesmo vale,
A um grande amor ser fiel.

Maria Lúcia de Almeida

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Efigênia


Pessoa franzina, miúda, mas de um jeito precioso para sua meia-idade. Sangue quente correndo nas veias, de apetite de vida que não esmorece. Delicada criatura de unhas e mãos sempre tratadas, cabelo arrumado, rostinho maquiado e brincos reluzentes nas orelhas. Feliz, sorridente e animada -  FiFi -  sempre pronta para amar e ser amada.
De dia, como faxineira, ela vinha todos os dias "limpar" as nossas vidas. Pequeno anjo que adentrava pelas salas de trabalho iluminando a vida e ascendendo o sol no coração da gente. Sexta-feira, dia especial, a bonequinha enfeitada e de saia rodada, acordava em nós o desejo de aproveitar a vida a cada instante. Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, procurava o prazer na dança. – Hoje eu me acabo no forró – dizia ela, depois de uma gostosa gargalhada.
A singularidade é que o coraçãozinho da FiFi envelheceu com graça. Parecia que a cada dia que passava ia respirando menos ar e com dificuldade.
Infelizmente ela faleceu não podendo o seu frágil sopro de vida vencer o esforço de uma batalha contra a pneumonia. Naquela hora humilde e agoniada, dentro da gente a ternura se desvanece. Fica o desgosto, às vezes a cólera, outra vez o desespero. E, finalmente, mergulhados na mais profunda tristeza, nada podemos fazer a não ser chorar um pouco.
Outro dia e o trabalho se reinicia, a vida retoma seu rumo. Voltamos a pensar que a morte é coisa longíngua, feita apenas para os outros...
No entanto, em tempo algum seremos os mesmos, pois dos nossos corações jamais se afastará a lembrança dos dias felizes que convivemos com a nossa querida FIFI. Nem a lembrança e nem a vibração de um riso manso, zombeteiro e alegre daquela linda alma de criança.

Maria Lúcia de Almeida

sábado, 25 de junho de 2011

Feitiço do tempo




De tudo
O que mais quero
São breves momentos
Mesmo sem lua
Na madrugada fria
Sem quê, nem pra quê
Se por ventura
- houvesse-
A mais tenra esperança
- e por fim -
A breve certeza
De encontrar você.

Maria Lucia de Almeida

sábado, 5 de março de 2011

Nowhere ( lugar nenhum)




Ao perceber
Que não mais existe
Um ser perdido
Em outras paragens
Ali ficou,
No escondido.
Emoção
De ser livre
E viver pra ser feliz
Perdeu o real motivo.
Pois, ser escravo
De pés atados
Ser contido, ser contrário
- definitivamente -
Não faz o menor sentido.

Maria Lucia de Almeida

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ausência

Sinto sua falta em toda minha presença:
No sorriso espontâneo
Na alegria furtiva
No desejo reprimido
-  que por um descuido -
Ainda se manifesta.

Na expectativa de um encontro
Na ingenuidade de um sonho
No perfume das tardes de primavera
E nas mornas noites de luar.

Nos eternos poemas quando declamados
Na suavidade de uma música romântica
Nos rápidos beijos roubados
Nas deliciosas confidências à mesa de um bar.

Mas quando me procuro
E não mais me sinto
E toda presença se desfaz
Tudo em mim e de mim
É só falta...
Em toda a sua ausência.


Maria Lúcia de Almeida

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ansiedade

Leio
Releio
Recorto
Resumo
Receio

Sonho
Reluto
Tento
Mas só consigo transformar o que sinto
Em nada mais que pensamento.

Maria Lúcia de Almeida

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Insônia

Tenho medo de fantasmas
Com seus camisolões brancos
Arrastando correntes pelo quarto
E sussurrando em meus ouvidos
Secretas lembranças do passado.

Fantasmas que fazem luau
Mesmo em noites sem  lua
Conferindo gavetas e armários
Em busca de sonhos acumulados.

Tenho medo que confisquem
Minhas frágeis esperanças,
Sangrem velhas  mágoas,
E sem pudor...
Libertem minha angustia.

Maria Lúcia de Almeida