quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Dar um tempo










Muitas vezes só o tempo nos concede a paz.
- dar tempo ao tempo -
Respirar.
Deixar que os cenários mudem,
Que as pessoas se acomodem,
Que as aflições se acabem.
As portas estão fechadas,
O tempo está nublado,
A esperança insiste em não vingar.
A despeito de tudo isso
É preciso viver
É preciso sonhar.
Buscar a tranqüilidade que nos alimenta a alma.
Porque, por vezes, é preciso sair de cena
Para que a essência volte a revitalizar  nosso lugar.

Maria Lúcia de Almeida

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Gente como a gente





E nos centros das cidades
(Nos) encontramos...
Na velhinha tristemente maquiada
Na solidão do garoto que chora
Na mosca pousada no canudo do refresco
Na expressão de dor do vendedor ambulante
No cheiro nauseante de urina em cada esquina
Nas enormes filas dos pontos de ônibus
Na triste velhice do pedinte
No homem que oferece o empréstimo 'da hora da fome'
No lamento do crente, e nas palavras do poeta
- Deus, ó Deus, ondes estás que não respondes? -
Na desolação dos desempregados nos bancos da praça
Na pressa do trabalha(dor) que segue seu caminho
Na tentativa de viver e de vencer...
Somos apenas gente.

Maria Lúcia de Almeida


sábado, 21 de setembro de 2013

Sua Imagem



Vejo você caminhando nos meus passos
Vejo-lhe neste tempo, nesta hora
Fugiu como um raio aos meus abraços
E num piscar de olhos foi embora.

Seguiu pra sempre sem me dizer adeus
E eu nunca soube onde você cansou.
Mas no meu cansaço, no meu desgaste,
Não mais olhei os acenos seus.

Você seguiu e eu fiquei sofrida
Pensei na sua figura já sem cor
Perguntei-me o porquê dessa partida.

E assim, sem sua palavra adormeci
Sonhei mágoas antigas que vivi
Sonhei com sua imagem já perdida.

Maria Lúcia de Almeida
(Aquarela de Haroldo Nazareth)

Sem resposta



Já não há respostas,
Sobram.
De todas as palavras possíveis
Juntam-se  as que menos fazem sentido.
A cidade passa por mim
 E como um fantasma,
Permaneço.
Atravesso paredes
Vejo os dramas, os amores desfeitos
A fome, a miséria, o desespero.
E me deixo ficar,
Existindo.
Fecho os olhos
 E vejo tudo em câmara lenta:
O passado, o futuro
Nós dois juntos
Desde o começo.
Concluo:
Sem você não há lua
Nem as árvores crescem
Nem os dias amanhecem
Por entre as sombras da rua.
Despeço-me.
Já não importa o que queria dizer.
Impresso na memória
Ficará sem efeito
O poema  que nunca
Vou conseguir escrever.

Maria Lúcia de Almeida



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Talvez um dia.

O tempo que nos une
É o mesmo que nos separa,
Como separa grãos de areia fina.
Talvez um dia,
Os grãos se encontrem novamente.
E vão pedir a brisa forte que não vente
E vão pedir aos céus que cessem tempestades.
E quem sabe, dessa vez...
Consigamos falar de nossas aventuras,
Da emoção, do pranto, da dor,
Dessa imensa saudade.

Maria Lúcia de Almeida

A revelação do anjo



Parado
no centro do quarto
- ardendo como lume -
o anjo invade meus sentidos.
Espalhando sussurros
- a visão pura e translúcida
de tão delicada criatura -
perscruta segredos,
tormentos, costumes.
Qual o segredo anjo,
se já não durmo,
impunemente desfeita,
devorada aos pedaços,
sob tuas formas de sonho?
Na penumbra da tarde
- sob os desígnios da espera -
resta o saber:
Que ele - antes de mim -
sabia todos os delírios,
as mortes e o fim.

Maria Lúcia de Almeida

Ela e a lua




Havia a lua
e ela os via
com tanta
força e desejo
tal forma e intensidade
como ela os tinha
presentes na alma.
Presença, respiração
certeza absoluta
dos movimentos
dentro do apartamento.
As suaves explicações
sobre a vida e o mundo
O encaixe perfeito
no abraço, no beijo.
E perplexa ficava
olhando o nada...
Mas havia a lua
e ela os via
amando tanto.


Maria Lúcia de Almeida

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Eros e Psiquê


Psiquê ao aceitar o desafio
De reconquistar o amor perdido,
Adquiriu o direito de reclamar do imortal.
Motivada pelo amor  verdadeiro
- e sempre fiel aos seus próprios sentimentos -
Fez com que até mesmo os deuses,
Envergonhassem de si mesmos.

Maria Lúcia de Almeida