sábado, 11 de agosto de 2007

Feito sonho...




Antes que eu pudesse me dar conta
O anjo adentrou a sala
Esvoaçando suas asas
E perguntou-me
Num sorriso divertido
De quem já sabe a resposta:
-Você está esperando?

Foi quando percebi
Que não estava apenas
Deixando-me ficar
E cansada de repisar
Palavras e idéias
Respondi:
-Sim, estou esperando.

Então, levou-me consigo.

Ao acordar pela manhã
Na bagunça do meu quarto
Entre cacos da velhíssima história
E sentimentos carcomidos
De todo dia
Senti ainda presentes
Ressoando em meus sentidos
Os acontecimentos daquela
Incrível noite de sonhos.

E num vislumbre
Por entre as frestas da cortina do dia
Algo novo se insinuava
De um angelical brilho
- teu sorriso -
Enquanto sussurrava em meus ouvidos:
- Estou contigo.

Maria Lúcia de Almeida

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Paradoxo



Para escrever um poema
É preciso estar enamorada.
Para estar enamorada
É preciso perder você.
Mas se é para perder você,
Como posso estar enamorada?
Paradoxo de minha vida
Que nem um poema me permite escrever
Sem correr o risco
De nunca mais rever você.

Maria Lúcia de Almeida

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Saudade de você


Falar sobre a saudade, esse misterioso sentimento que jamais saberemos ao certo definir.
É um lembrar de algum tempo gostoso que não se acomoda mais à pele nova, só na pele antiga, mas que toda vez que nos invade vem com cheiro e jeito de aconchego. É lembrar dos dias em que o trabalho não rendia e as horas custavam a passar.
Mas no final do dia, então sim, era desligar o computador, correr para retocar a maquiagem e renovar o perfume. As colegas de trabalho diziam com certo ar de inveja e deboche: “Aí, hein, hoje tem!”. E eu nem punha reparo. Era só expectativa e felicidade ao atravessar a praça em passos rápidos e esperar no lugar e hora combinados.
Chegava sempre pontual, aquele senhor cheiroso. Cheirava, principalmente, à fruta madura, talvez às maças no momento em que são colhidas. E sereno...de uma naturalidade pura, ainda intocada pela pressa dos que estão apaixonados.
Trazíamos no coração um só desejo: chegar depressa ao bar da rua Aimorés para compartilharmos de deliciosas horas da mais terna amizade, com muita prosa recheada de afinidade e encantamento.
Se por algum momento existiu a intenção do amor, ficou assim, para sempre subtendida.
Hoje penso que nunca nos importou um nome real para aqueles nossos encontros. Tão particularmente nossos, que jamais vamos precisar definir através de um nome.
Pois é...saudade tem que ser isso. Algo quente, algo antigo, algo que faz rir, algo que faz chorar, algo que vale ouro...Assim como você, meu querido e inesquecível amigo.

Maria Lúcia de Almeida