segunda-feira, 21 de agosto de 2023

BLADE RUNNER

 


Entre as sombras futurísticas de uma cidade perdida, onde a chuva e o neon dançam um balé de cores, ergue-se a obra-prima cinematográfica chamada Blade Runner.
Sob a brilhante direção de Ridley Scott, o filme nos conduz a uma jornada inquietante e reflexiva em um mundo imaginário e  melancólico, onde a essência humana é questionada, e as máquinas são dotadas de uma complexidade emocional profunda, de uma identidade tal com o ser humano, que ecoa na alma do espectador.
 Nos labirintos da cidade decadente, acompanhamos o caçador de replicantes, interpretado magistralmente por Harrison Ford, mergulhar em um dilema moral, oscilando entre o dever e a empatia com os androides, entre a humanidade e a artificialidade.  Os olhos dos replicantes refletem o vazio e, ao mesmo tempo, a   busca incessante que vai além da existência programada, eles ‘replicam’ por mais vida. Em meio a essa teia de sentimentos, a presença enigmática de Rachael (Sean Young) surge como catalizador de reflexões. Através do olhar de Rachael, uma androide, somos convidados a confrontar nossas próprias limitações. Ela é a perfeição imperfeita, um anseio por algo mais humano do que a própria humanidade. A trilha sonora de Vangelis abraça cada cena, elevando-a à transcendência, enquanto a atmosfera noturna envolve-nos em sentimentos inexprimíveis.
Blade Runner é uma ode à poesia do cinema, uma celebração da imaginação humana e um convite à reflexão sobre as complexidades do ser. Nele, a tecnologia e a humanidade dançam uma valsa etérea, tecendo uma teia de significados e emoções que ultrapassa  o tempo e o espaço. 
Em Blade Runner não encontramos apenas um filme, mas uma experiência transcendental que ecoa em nossa alma como um lembrete de que, mesmo em um mundo repleto de máquinas, ainda seremos capazes de ir em busca de sentido e significado para contemplar o que realmente nos torna humanos. 

Maria Lúcia de Almeida

segunda-feira, 3 de abril de 2023

"Escrevo para libertar palavras e faço isso antes do pôr do Sol."


Quando estou triste, gosto de contemplar o pôr do sol; e a cada espetáculo desse que contemplo, inspira-me o desejo de partir para um oeste tão distante quanto aquele onde o sol sumiu.  De acordo com Rubem Alves, somos seres crepusculares a espera do pôr do sol de nossas vidas,  é verdade, pois sendo a tarde a velhice do dia, quando o sol se põe no horizonte, uma pequena morte ali sempre acontece. Ah, e como é belo o pôr do sol visto pelo olhar do poeta ao enfatizar a finitude da vida e dos afetos. E eu, que bem sei o que é ser flor nas asas de uma ventania, alargo meu horizonte para que o sol possa se pôr 'redondinho', sem precárias valentias, sem mais expectativas ou sofrimento. E com os olhos fitos no poente, deixo a paz falar manso no silêncio de meu coração. Percebo o quão fúteis foram meus dias repletos de esperança para um final feliz, daqueles de cinema, sabe, em que no final 'tudo se ajeita'. Agora percebo que a sabedoria que vem do natural é muito mais doce, é a sabedoria da maturidade a me dizer: "tudo é porque tem que ser, tudo um dia se acaba porque precisa acabar, ou quem sabe, porque esteja perto o momento do nosso 'pôr do sol'. O pensamento voa nos traços da memória e pergunto ao  silêncio o que ainda tem a me dizer que precisa ser compreendido, e ele me faz lembrar das nossas perdas constantes, daquelas  não só dos entes queridos, mas perdas em geral, de espaço, de tempo, de planos e de certezas que se vão, naturalmente, findando com o tempo e que também fazem parte da nossa jornada de vida. E daquelas perdas tão necessárias para nossa integridade moral que  são as relacionadas ao medo: das injustiças, das mesquinharias, das covardes ameaças de abandono e da solidão. Isso porque a gente aprende a reconhecer a força que temos e, principalmente, a força que vem da bondade divina, que nos dá coragem e nos mantêm em pé todos os dias. E sendo a  verdade a filha do tempo, tudo que ainda lhe peço, senhor tempo, antes de meu pôr do sol, é que eu saiba cuidar muito bem de mim mesma, com leveza, dignidade e aceitação. E, principalmente, que eu saiba tirar de mim a perigosa ânsia de que ' tudo tem que ser feliz até o final'.

Maria Lúcia de Almeida