quarta-feira, 9 de julho de 2008

Sem Questionamento


Não me perguntem quantos anos tenho
Não me perguntem quantos anos faço
Meus caminhos começam
além da margem de lá, depois da curva do rio
entre pedras e cachoeiras,
entre esmeraldas, futuro e taquarais.
Que não lhe impressionem a cor gasta de meus cabelos,
nem estes olhos fundos, fundos e profundos,
e a pele que em rugas guarda os segredos que vivi.
Não me perguntem quantos anos faço.
Perguntem-se que canções canto, que poemas leio,
que histórias escrevo.
Perguntem-me quem se aquece em meu braço febril,
quem se alimenta de meus beijos,
quem se apoia em minhas mãos cansadas.
Perguntem-me pelos portos que me aguardam,
pelas emoções que vivo,
pelos caminhos que surgem de meus devaneios.
Perguntem-me pelos clichês que desconstrui,
pelas transgressões que empreendi,
pelos horizontes que ultrapassei.
E quando me virem caminhando assim
entre silêncios e pensares,
olhar distante numa falsa abstração,
apontem-me como alguém que ainda ama,
sonha, luta, espera e crê.
Então, só então, digam:
ali vai uma jovem, para quem todo amanhecer
é sempre inaugural porque acredita
que enquanto houver vida,
não haverá ponto final.
Arlete Parrilha Sendra
(Membro da Academia Campista de Letras)