quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Efigênia


Pessoa franzina, miúda, mas de um jeito precioso para sua meia-idade. Sangue quente correndo nas veias, de apetite de vida que não esmorece. Delicada criatura de unhas e mãos sempre tratadas, cabelo arrumado, rostinho maquiado e brincos reluzentes nas orelhas. Feliz, sorridente e animada -  FiFi -  sempre pronta para amar e ser amada.
De dia, como faxineira, ela vinha todos os dias "limpar" as nossas vidas. Pequeno anjo que adentrava pelas salas de trabalho iluminando a vida e ascendendo o sol no coração da gente. Sexta-feira, dia especial, a bonequinha enfeitada e de saia rodada, acordava em nós o desejo de aproveitar a vida a cada instante. Mesmo depois de um dia inteiro de trabalho, procurava o prazer na dança. – Hoje eu me acabo no forró – dizia ela, depois de uma gostosa gargalhada.
A singularidade é que o coraçãozinho da FiFi envelheceu com graça. Parecia que a cada dia que passava ia respirando menos ar e com dificuldade.
Infelizmente ela faleceu não podendo o seu frágil sopro de vida vencer o esforço de uma batalha contra a pneumonia. Naquela hora humilde e agoniada, dentro da gente a ternura se desvanece. Fica o desgosto, às vezes a cólera, outra vez o desespero. E, finalmente, mergulhados na mais profunda tristeza, nada podemos fazer a não ser chorar um pouco.
Outro dia e o trabalho se reinicia, a vida retoma seu rumo. Voltamos a pensar que a morte é coisa longíngua, feita apenas para os outros...
No entanto, em tempo algum seremos os mesmos, pois dos nossos corações jamais se afastará a lembrança dos dias felizes que convivemos com a nossa querida FIFI. Nem a lembrança e nem a vibração de um riso manso, zombeteiro e alegre daquela linda alma de criança.

Maria Lúcia de Almeida