Esperava ansiosa o final do ano e este, quando chegou, veio agregado ao fim do mundo. E não veio com meteoros flamejantes, nem com o rugido das trombetas apocalípticas, veio numa segunda-feira qualquer, porque o caos sempre escolhe dias ordinários.
Primeiro o wi-fi caiu, depois os gatos pararam de farrear nos telhados e isso, para mim, foi um sinal claro de que algo estava profundamente errado. As pessoas sairam às ruas com o olhar perdido, não por medo das chamas, mas porque a Internet não funcionava mais. Olhei para o céu e ele, em um gesto dramático, resolveu mudar de cor, um roxo fosforescente que nenhum filtro de instragram poderia reproduzir Enquanto eu contemplava extasiada a valsa desajeita da das placas tectônicas, a humanidade teimosa e um tanto cômica, decidiu fazer o que sempre fez: reclamar.
" Fim do mundo? Logo agora que comprei vestido e sapatos novos ? "
" Podia ter esperado terminar o mês, aí eu não precisava pagar as contas".
Assim, entre o tremor dos continentes e a perplexidade dos incrédulos, alguém abriu uma garrafa de vinho, porque o mundo pode acabar, mas não antes de se fazer um brinde!
E no último suspiro da Terra, como toda boa poetisa, eu apreciava as estrelas caindo do céu como enfeites de uma festa cósmica.
Bom, pelo menos o espetáculo foi bonito de se ver. E, então... o mundo acabou. Quieto. Exceto pelo som distante de uma notificação que ninguém nunca mais leria :
" Cuidem bem da mãe-natureza."
Maria Lucia de Almeida