quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Fim de ano ou fim de mundo?

Esperava ansiosa o final do ano e este, quando  chegou, veio agregado ao fim do mundo. E não  veio com meteoros flamejantes, nem com o rugido das trombetas apocalípticas, veio numa segunda-feira qualquer,  porque o caos sempre escolhe dias ordinários. 
Primeiro o wi-fi caiu, depois os gatos pararam de farrear nos telhados e isso, para mim, foi um sinal claro de que algo estava profundamente errado. As pessoas sairam às  ruas com o olhar perdido, não por medo das chamas, mas porque a Internet  não funcionava mais. Olhei para o céu e ele, em um gesto dramático,  resolveu mudar de cor, um roxo fosforescente que nenhum filtro de instragram poderia reproduzir Enquanto eu contemplava extasiada a valsa desajeita da das placas tectônicas,  a humanidade teimosa e um tanto cômica,  decidiu fazer o que sempre fez: reclamar.
" Fim do mundo? Logo agora que comprei  vestido e sapatos novos ? "
" Podia ter esperado terminar o mês,  aí eu não precisava pagar as contas". 
Assim, entre o tremor dos continentes e a perplexidade dos incrédulos,  alguém  abriu uma garrafa de vinho, porque o mundo pode  acabar, mas não antes de se fazer um brinde!
E no último suspiro da Terra, como toda boa poetisa, eu apreciava as estrelas caindo do céu como enfeites de uma festa cósmica. 
Bom, pelo menos o espetáculo foi bonito de se ver. E, então... o mundo acabou. Quieto. Exceto pelo som distante de uma notificação que ninguém nunca mais leria :
 " Cuidem bem da mãe-natureza."

Maria Lucia de Almeida