terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Vive l'amour"


‘Vive l’amour’ é um filme especial e também uma obra prima visual. Quase desprovido de diálogos e misturando contrato de sagacidade, estranho erotismo e profunda tristeza, é um filme realista e, ao mesmo tempo, poético e sensível. Um filme para poucos, pois está muito além do mero entretenimento e acima da superficialidade do cotidiano jornalístico.
No enredo, Hsiao é um tímido vendedor de urnas funerárias, possui tendências suicidas e, como forma de redenção, busca coragem para por fim à própria vida. Mei-mei é uma corretora de imóveis que encontra no sexo uma forma de compensar seu intenso sentimento de abandono e infelicidade. Ah-rong vende roupas usadas e se ‘vira’, pelas ruas, para sobreviver. Três jovens solitários e fechados em seus próprios desesperos que acabam se encontrando em um apartamento vazio da cidade em busca da satisfação nos atos compartilhados. Vidas tristes e trocadas, caminhos densos, onde o viver ‘cada um por si’ e a incomunicabilidade são condições do mundo atual e a principal causa do sentimento de abandono e exclusão.
É o cinema contemporâneo que vem tratando da solidão urbana, da falta de amor e de comunicação entre as pessoas. De um mundo onde o materialismo e a alienação urbana ganham espaço e imperam sobre a civilidade e a razão da grande parte das sociedades. Onde o capitalismo com seu efeito globalizar produz uma realidade fria que não mais reflete o interior das pessoas, mas apenas o exterior. Vida de desencontros, vida de excluídos, sofrimento sem nenhum atenuante.
Geralmente , ouvimos, vemos e sentimos conforme nossas inclinações e evitamos, até mesmo excluindo, pessoas com a sensibilidade para enxergar determinadas facetas de nossa realidade. Uma dessas pessoas é o diretor Tsai Ming-Liang que através de seu excepcional “Vive l’amour” veio nos confirmar que muitas vezes mentimos mais alto quando mentimos para nós mesmos.
Maria Lúcia de Almeida

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