domingo, 12 de dezembro de 2010

Da crítica ao elogio


Nuvens carregadas, vento frio, sinal de muita chuva...
Pela janela do meu quarto observo o quão cinzenta está a tarde de domingo.
Numa tarde assim o espírito torna-se receptivo a tudo e, um pouco mais, aos tristes pensamentos de mágoa.
Por que será que há sempre alguém magoando alguém? Por que se tornou tão fácil apontar defeitos, discriminar afetos, criar ressentimentos?
Nunca tantas pessoas têm evitado a ansiedade e a angustia, inerentes ao autoconhecimento, preferindo mudar as regras do jogo.  Ao invés do elogio que humaniza e dá sentido à vida, preferem a crítica ou, pior, o dissimulado deboche.
Para que serve a crítica? Basicamente, para que não se corra o risco de sentir-se de forma diferente. Tão somente espelho a refletir, pois a vaidade, a arrogância e a soberba nascem precisamente da falta de amor por si mesmo e esconde uma ferida narcísica de impotência e humilhação. Exaltar o mortal veneno e dizer que busca a verdade não será jamais solução de sobrevivência.
Seguir o caminho inverso ao da crítica é uma maneira de fortificar a solidariedade positiva, incentivando o melhor que existe em cada ser humano. Dar um elogio é uma forma de afago e carinho, tem como objetivo sentirmos queridos e amados, e não implica em dívida nem tão pouco em crédito. Ir da crítica ao elogio é ousar a possibilidade do amor.
Em realidade, necessitamos de humildade para adquirirmos o verdadeiro orgulho de sermos quem somos, incentivar a centelha divina que dá ânimo para seguir adiante, enfrentar as durezas da vida e, quem sabe, até arriscar um simples bater de asas no céu, uma cantiga de ave, um atrevimento de voo...
De súbito, acordo de meu devaneio, do balançar entre a inquietação e a paz que só existe nos corações sensíveis, e através da razão me lembrar que as pessoas só fazem com a gente aquilo que permitimos que elas façam.
Encontro o poder miraculoso de transformação do elogio nas palavras adequadas que os mestres sussurram aos meus ouvidos, a eles credito os meus acertos. Termino meu domingo curtindo o vento e a chuva, pois sei que o céu é leve e que, quando menos esperar, um novo raio de sol irá surgir.

Maria Lucia de Almeida

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