quinta-feira, 23 de junho de 2016

Um dia, um adeus...


Nas ruas, só o silêncio.
A madrugada morna deslizava leve, com o sopro doce de uma brisa que trazia no ar o cheiro do verão. Mas não era só isso — havia algo mais.
Os perfumes da noite se misturavam como lembranças: flor noturna, asfalto quente, vento  de chuva e um quê de saudade.
Para ela, aquela cidade era mais que cenário, 
era alma gêmea.
Tinha cheiro de liberdade, mistério, cumplicidade... e paixão.
Somente ali, só ali, os sentimentos ganhavam forma e aroma.
A cada esquina, um sussurro do passado,
a cada sombra, um beijo que não voltaria.
Foi ali, entre luzes tímidas e o silêncio cúmplice,
que uma alma e uma cidade se despediram.
Sem lágrimas, mas com hora marcada.
Um último encontro bordado no tempo,
antes do eterno adeus.

Maria Lúcia de Almeida
Dezembro / 1991


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Ilusão


Quem sou eu além daquela que desejo ser?
Do tempo escondido na própria vida
Fui refém.
Deixei a vida passar, e com ela a realidade.
Agora já não sou eu,
Sou metade.
Salva pelas mãos delicadas de um anjo,
Fotografei a felicidade por uma porta 
- entre aberta -
O anjo contou-me um segredo hilário:
 - Era a porta da ilusão -
Fui para o seu lado...mas você,
Sempre ao contrário.

Maria Lúcia de Almeida