Penso
que, por vezes, a história brasileira parece desenvolver-se com irritante falta
de imaginação e nenhuma criatividade. E ao contrário do que costuma acontecer
na ficção, o que ficou foram conseqüências drásticas que desfiguraram a nossa
sociedade, marcando-a com cicatrizes que o tempo não deverá apagar tão cedo. Os
treze anos do governo petista, não deixaram vencedores e vencidos no saldo dos
confrontos sociais, Todos, a meu ver, e de certa maneira, saíram derrotados.
O
partido dos trabalhadores e seu líder Luiz Inácio da Silva, o ex-presidente
Lula, viu o respeito e a admiração tão arduamente conquistados,
transformarem-se em medo, desprezo e repúdio. Sem contar que o anedotário
criado pela contrapropaganda acabou por contaminar com o ridículo a própria
imagem da presidente do país. À tentativa de manipulação ideológica,
retrucou-se com as denuncias de corrupção, com o deboche e a desmoralização.
A
classe média, ao ver iniciar a desaceleração econômica, o recomeço da espiral
inflacionária, a conseqüente deterioração dos diversos setores financeiros e de
responsabilidade social do país, começou a mobilizar-se e a exigir os
princípios democráticos. Para essa classe, ficou carregar o fardo de ser
reconhecida e apontada como patrocinadora do ‘golpe’ e financiadora da máquina
de repressão.
Mas
a carga maior, sem dúvida, recaiu grande parte sobre as camadas médias e
classes trabalhadoras, que em plena crise, sentiram-se dominadas pelo temor,
pela insegurança e pela ignorância forçada. Falava-se em socialismo e igualdade
de condições para trabalhadores exaustos que queriam apenas melhorar suas
condições de trabalho, receber salários mais elevados e melhores condições de
vida na saúde, na educação e no lazer. Um governo que se dizia comprometido com
os interesses de todos e, por isso, merecedor de apoio, revelou-se na verdade,
um sistema populista alienado no egoísmo de seus projetos e interesses
individuais. E a classe trabalhadora mais uma vez perdeu a liberdade de viver
como participante ativa da história, de se conhecer e viver como parte de uma
comunidade maior. Só um esforço enorme poderá permitir-lhes superar o tempo
perdido.
E
mais uma vez o futuro do Brasil está comprometido. Estaremos correndo o risco
de esperar por muito tempo, estaremos correndo o risco de chegar de novo a
fenômenos de desmoralização de toda nossa sociedade, estaremos correndo talvez
um risco pior ainda: ver a situação dar uma virada tal que uma direita, muito
mais estrema do que a que já conhecemos, tome o poder. E dessa vez, ela saberá
muito bem como mantê-lo.
É
possível também que nada disso aconteça e que se desemboque num processo de recuperação
e coisas desse tipo. Sinceramente, espero e desejo muito por isso. Mas um
governo dito socialista perdeu totalmente o tipo de apoio popular que adquiriu
nas últimas eleições. O PT perdeu a chance de ser um partido ético e de ter
feito a diferença na história política do Brasil.
Maria Lúcia de Almeida