quinta-feira, 24 de julho de 2025

O Tempo das Margaridas



Chega um momento na vida em que o tempo desacelera. Não porque os dias se tornem menos intensos, mas porque a gente aprende a vivê-los de outro jeito ,como quem caminha descalço num campo de margaridas, sem pressa, só por prazer. Os últimos anos da vida não são um fim, são um lugar. Um lugar de pouso. Um banco sob a sombra de uma árvore antiga, onde finalmente se pode ver tudo com mais clareza: os erros já não doem tanto, os acertos brilham mais. E o que não se viveu, ah… vira vento, vira história que se conta rindo, com um certo ar de travessura.  É estranho como o tempo, que tanto nos apressou, agora parece pedir licença. Ele bate de leve à porta: “Posso entrar, com calma" . E a gente deixa; com xícara de chá, com silêncio, com olhos que demoram mais nas coisas simples:  o voo de um passarinho, o cheiro do café, a lembrança de um nome esquecido e reencontrado no coração. Não há mais o que provar. Só o que partilhar. E é nesse tempo que o amor, mesmo quando quieto, grita mais alto. Porque ele fica nas mãos dadas, nas fotos amareladas, nas cartas guardadas em caixas. Ele fica no jeito de cuidar; mesmo que agora quem cuida seja o outro. Viver os últimos anos é, talvez, viver de verdade. Como quem sabe que o espetáculo já foi lindo e agora só assiste, sorrindo, aos aplausos da alma.

Maria Lucia de Almeida

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