Hoje eu acordei com a alma leve, tão leve que acho que tropecei em mim mesma de tão solta. Não aconteceu nada , e talvez esse seja justamente o milagre: nada aconteceu e, ainda assim, eu estou feliz. Sabe aquele tipo de felicidade que não tem motivo nem desculpa? Pois é, tô nessa. Felicidade gratuita, sem CPF na nota. Não ganhei na loteria , ninguém me mandou flores, e o tempo lá fora está indeciso, como eu na frente da geladeira. E mesmo assim, olha eu aqui, rindo sozinha porque uma formiga se perdeu na pia e deu meia-volta como se dissesse: "Opa, desculpa, endereço errado."
Tem dias em que meu coração resolve fazer festa sem aviso prévio. Ele liga a música, estoura confete invisível e dança, mesmo que eu esteja só passando café. E quem sou eu pra reclanar? A verdade é que tem uma coisa deliciosa em não precisar de razões pra sorrir. Como se o universo, por um segundo, cochichasse: “Vai lá, pega esse instante de graça e aproveita. Ninguém tá olhando.” E eu aproveito. Porque ser feliz por nada é, no fundo, ser feliz por tudo que a gente esquece de notar: a luz atravessando a cortina, o vento rosçando na palmeira, o roncar da Nina ao meu lado, a sensação boa de estar em paz com o próprio caos.
Então hoje, se me perguntarem o porquê desse meu instante flash, eu vou responder com a maior sinceridade do mundo: não sei. Só sei que tá bom demais ser feliz assim ,de graça, à toa, e sem a menor vontade .
Maria Lucia de Almeida