Deixo aqui uma crônica minha em homenagem singela a J.G.Rosa e à minha 'filha adotada', Maria Lúcia:
BURITI, MINHA PALMEIRA Estou numa reserva do cerrado, perto de Buritis, chamado RECANTO DAS ARARAS. Viemos com Gigi, a proprietária, e ao chegar logo nos deparamos com um local superaprazível, campos de buritis, uma lagoa, quiosques com redes - muitos animais da região: galinhas, vacas, seriemas, bacuraus, sagüis, periquitos...Um olho d'água brota perto da barragem, as mulheres levam talhas para recolher a linfa cristalina. Os homens contam histórias de bichos: ontem apareceu uma onça pintada enorme, mas só ameaçou, não atacando ninguém - deixou pegadas. Também mataram uma jararacuçu de um metro e meio, o couro ainda está secando no terreiro.A mata é densa - há os buritis; e as veredas. A tarde cai. Onde fica o pôr-do-sol? São dois? São três? Um reflete o outro. "Escolho" um para mim - o mais róseo. Tudo é belo horizonte. A lua desponta - vai ser cheia. Os buritis se acendem, ficam alerta, espetados. Essa lua, esse licor de jabuticaba...Esqueço o medo de cobras, torno-me rural. É noite em Minas - então, vai ter café e pão-de-queijo. Os homens comentam e fazem troça sobre a onça; outro diz que "não perdoa cobra" - mata todas que encontra... Uma menina brinca lá fora com seus malabares, outra lê na varanda, avidamente. "Aleluias" se juntam perto das lâmpadas. A noite se avoluma. A coruja pia, o pavão responde. Acende-se uma fogueira, os meninos assam milho e batata doce. Os homens fazem roda de catira e, ao ritmo das palmas, vão tirando versos: Buriti, minha palmeira, Já chegou um viajor...Não encontra o céu sereno Já chegou o viajor...Um boi preto, um boi pintado, Cada um tem sua cor Cada coração um jeito De mostrar o seu amor. Buriti, minha palmeira, Toda água vai olhar Cruzo assim tantas veredas, Alegre de te encontrar...Vou olhar o céu. Na noite negra, mil olhinhos cintilam: "Absolutas estrelas!" •
Cordisburgo, cidade do coração / 25/06/2006
3 comentários:
Lindo, viajei nesses mil olhinhos...
Lindo, viajei nos mil olhinhos...
Em Minas como em Goiás, as veredas com seus buritis,são mesmo lugares mágicos.
Me senti totalmente "em casa". Quase ouvi o farfalhar das palmas agitadas pelo vento.
Obrigado
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