sexta-feira, 15 de junho de 2007

Cordisburgo, cidade do coração.


Deixo aqui uma crônica minha em homenagem singela a J.G.Rosa e à minha 'filha adotada', Maria Lúcia:


BURITI, MINHA PALMEIRA Estou numa reserva do cerrado, perto de Buritis, chamado RECANTO DAS ARARAS. Viemos com Gigi, a proprietária, e ao chegar logo nos deparamos com um local superaprazível, campos de buritis, uma lagoa, quiosques com redes - muitos animais da região: galinhas, vacas, seriemas, bacuraus, sagüis, periquitos...Um olho d'água brota perto da barragem, as mulheres levam talhas para recolher a linfa cristalina. Os homens contam histórias de bichos: ontem apareceu uma onça pintada enorme, mas só ameaçou, não atacando ninguém - deixou pegadas. Também mataram uma jararacuçu de um metro e meio, o couro ainda está secando no terreiro.A mata é densa - há os buritis; e as veredas. A tarde cai. Onde fica o pôr-do-sol? São dois? São três? Um reflete o outro. "Escolho" um para mim - o mais róseo. Tudo é belo horizonte. A lua desponta - vai ser cheia. Os buritis se acendem, ficam alerta, espetados. Essa lua, esse licor de jabuticaba...Esqueço o medo de cobras, torno-me rural. É noite em Minas - então, vai ter café e pão-de-queijo. Os homens comentam e fazem troça sobre a onça; outro diz que "não perdoa cobra" - mata todas que encontra... Uma menina brinca lá fora com seus malabares, outra lê na varanda, avidamente. "Aleluias" se juntam perto das lâmpadas. A noite se avoluma. A coruja pia, o pavão responde. Acende-se uma fogueira, os meninos assam milho e batata doce. Os homens fazem roda de catira e, ao ritmo das palmas, vão tirando versos: Buriti, minha palmeira, Já chegou um viajor...Não encontra o céu sereno Já chegou o viajor...Um boi preto, um boi pintado, Cada um tem sua cor Cada coração um jeito De mostrar o seu amor. Buriti, minha palmeira, Toda água vai olhar Cruzo assim tantas veredas, Alegre de te encontrar...Vou olhar o céu. Na noite negra, mil olhinhos cintilam: "Absolutas estrelas!" •



Cordisburgo, cidade do coração / 25/06/2006

3 comentários:

Ligiane disse...

Lindo, viajei nesses mil olhinhos...

Ligiane Diaz disse...

Lindo, viajei nos mil olhinhos...

"Naza" disse...

Em Minas como em Goiás, as veredas com seus buritis,são mesmo lugares mágicos.
Me senti totalmente "em casa". Quase ouvi o farfalhar das palmas agitadas pelo vento.
Obrigado