Dizem que a tolerância é virtude
para os fracos.
Se assim for, fraca é o que tenho
sido minha vida inteira por tolerar, e até perdoar, alguns conhecidos que se dizem muito religiosos. Tolerante, por
exemplo, com aquela senhora que “bate os joelhos no chão e a mão no peito" na hora de pedir dádivas para si e para os filhos, aquela que comparece todos os
domingos à missa e, ajoelhada aos pés do confessionário, se diz cumpridora de seus deveres e obrigações, verdadeiramente arrependida
de seus pecados. No entanto, essa mesma senhora ,
no seu dia-a-dia, adora julgar o próximo. E julga mal, malicia, condena,
fofoca, inveja, e , principalmente, levanta falso testemunho. Tão intransigente até mais que a própria Igreja
Católica, ela não se apieda de ninguém.
Seria então a intolerância a virtude dos fortes? Assim, como a tal senhora,: tão
atenciosa, tão religiosa, e tão impiedosa, a pobre diaba! E que não cheguem muito perto, pois a “mordida” pode ser fatal.
A tolerância só seria bom entre
iguais, fiada na boa fé, recíproca. Mas que ninguém se engane: vivemos lado a lado com o nosso inimigo, com nosso delator, com o nosso carrasco. Não
podemos ter cordialidade nem mesmo com alguns parentes, pois se entrou disputa de bens materiais no meio da convivência, essa já azedou. Não há entendimento possível, ou são eles, ou somos nós, nada que justifique ilusões de fraternidade e de bondade. Representam de fato, uma ameaça à nossa integridade moral, à nossa sobrevivência.
Quem for forte, que se
prepare para a briga, que cedo ou tarde há de chegar. Eu, que sou fraca e que não brigo, só posso prometer vigiar, fugir e denunciar. Denunciar é preciso, é a nossa defesa.
E minha mão a eles não dou nunca
mais. Minha palavra de amizade, isso não dou mesmo. Não dou nem bom-dia, e se
puder evitar, sequer direi “amém” quando
espirram.
Maria Lúcia de Almeida
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