segunda-feira, 9 de julho de 2007

Um certo cara na minha vida


Existe um certo cara que um dia apareceu na minha vida. Não sei como definir sua aparição. Recordo-me de uma noite de festa, virada de ano, quase meia-noite. Aproximou-se assim meio tímido, como que saído de sonhos, disfarçando o mago ou escondendo asas de anjo.
De onde veio - ele me contou - de uma pequena e hospitaleira cidade do interior das Gerais.
Ex-seminarista, buscou na religião se encontrar, mas ao sentir seu espírito aprisionado, recolocou as asas na alma, seguiu estrada. Caminhou por esse vasto mundo à fora, vagou por entre céus e infernos sempre a oferecer seu amor ao próximo, sua ajuda camarada e lindos poemas que compunha em troca de abrigo ou de alguma comida. Muito bom poeta. Humano, mas de uma humanidade criança, onde dores e desilusões de uma vida não conseguiram afetar, nem seu mundo de sonhos, nem a sua bela poesia.
Lembro-me exatamente do instante em que conversávamos e aconteceu aquele tumulto. Alguns rapazes , atraentes e bem vestidos , começaram uma briga. Um deles sacou um revolver e atirou. Meu amigo poeta, rapidamente, jogou seu corpo por cima de uma jovem que estava próxima, desviando-a do caminho da bala e salvando aquela vida.
Maior "zumzum" no salão...ninguém entendeu ao certo o que havia acontecido. Até que uma voz gritou:
- "Aquele rapaz, aquele andarilho que espalha poesia, foi ele que começou tudo, vamos pegá-lo, vamos levá-lo para a delegacia!
Procurei desesperadamente pelo meu amigo poeta, mas ele havia desaparecido.
E aquele olhar - que jamais conseguirei esquecer - olhar que espelhava o amor, a amizade, a sinceridade e a ternura, se perdeu num mundo cheio de maldade.

Maria Lúcia de Almeida

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