sábado, 14 de julho de 2007

Aquele azul...



Estava sentada à mesa de meu quarto escrevendo, quando uma estranha força conduziu meus olhos para a janela, fixando-os no céu.
Sem dúvida, todo o esplendor da tarde de primavera era o reflexo daquele imaculado azul celeste. Tentei concentrar-me novamente no trabalho, mas não consegui.
Lá estava eu - entregue - mergulhada no infinito azul do céu. E assim fiquei, sem me dar conta do sentimento que me prendia àquele instante.
De repente percebi em mim uma estranha saudade de "não sei bem o que". Assustada com tão inusitada revelação, disparei por alguns labirintos de minha alma. Em qual deles minha saudade permanecia escondida? E assim, envolta no mistério da saudade, fui revistando sonhos, antigas lembranças, revirando mundos, mundos dispersos dentro de mim. Mas nada de me reencontrar.
Finalmente, aos poucos fui me redescobrindo. Prisioneira de um tempo que ainda está por acontecer, refém de um amor que ansiosamente eu aguardo. Amor, que de uma certa forma - quase inexplicável - eu já conheço. Ele se parece com um anjo e vem sempre me visitar. Percebo por nuances, por acaso, por meros instantes o seu bem querer. Sussurra em meus ouvidos a calma paixão dos enamorados. Vislumbro na penumbra o seu belo corpo e através de sua sombra no ar percebo a beleza de seus traços. Com o vento sinto a ternura de suas mãos em meus cabelos, e posso jurar que em leves movimentos chego a sentir meus braços envolvidos em seus abraços.
E ali fiquei até o cair da tarde, viajando por muito além do horizonte, numa tentativa desesperada de me resgatar de um amor que insiste em me fazer prisioneira. Prisioneira pela eterna espera de sua chegada.
Confesso que ainda não consegui o resgate. Mas a magia daquela tarde azul me forneceu uma chave para o meu mistério. Saberei quando meu amor próximo de se revelar. Será nas vezes que uma "estranha força" vinda de profundos e serenos olhos azuis estiver a me enfeitiçar.

Maria Lúcia de Almeida

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